“Horta comunitária: conheça o que é e o exemplo da Ocupação 9 de Julho”

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Horta comunitária é um espaço coletivo no qual se pode produzir alimentos por meio do trabalho voluntário de pessoas que vivem em determinado local ou região.

O que é uma horta comunitária

As hortas comunitárias são hortas coletivas responsáveis pela produção de alimentos através do trabalho voluntário de alguns indivíduos de uma comunidade ou uma região.
Além disso, essas hortas podem desempenhar um papel importante na transformação de hábitos alimentares da comunidade. Ao oferecer uma área de cultivo sem o uso de agrotóxicos, os alimentos produzidos são mais nutritivos e saudáveis.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo de cinco porções diárias de frutas, verduras e hortaliças, ao menos cinco vezes por semana, como forma de prevenir doenças e combater a obesidade.

Com a presença de uma horta no cotidiano de uma comunidade, é possível incentivar a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, que gradualmente se integram à rotina dos moradores.

Como organizar uma horta comunitária 

Não há dificuldades em pôr em prática uma horta comunitária. Basta ter criatividade e organização. Veja o o a o!

1. Reúna as pessoas interessadas

Para que tudo fique em comunidade desde os estágios iniciais do projeto, é fundamental conversar com a vizinhança e propor a ideia. Neste o, aproveite para apresentar os benefícios da ideia. Logo que tiver um grupo de interessados, uma atitude interessante é pesquisar e conhecer outras hortas comunitárias para saber como elas funcionam e se organizam.

2. Encontre o terreno ideal

Com o grupo formado, é hora de todos buscarem um local para plantar. Há pouco, citamos ideias de terrenos que podem ser utilizados, porém, é preciso saber que nem todo canto é aproveitável. O ideal é que o espaço seja plano e receba luz solar por, pelo menos, seis horas diárias. Esses são requisitos básicos para que a maioria das culturas se desenvolva adequadamente.

3. Escolha quais culturas serão cultivadas

Cada membro do grupo responsável pela horta comunitária pode sugerir o que deseja plantar. É interessante que se tenha uma boa variedade de espécies, mas lembre-se de respeitar o distanciamento entre as plantas, adequando essa variedade ao espaço existente.
A escolha sobre o que plantar também deve considerar clima, solo, época do ano, região (que interfere em questões como temperatura e umidade) e viabilidade. Sobre este último ponto, não adianta plantar algo que exige muitos cuidados se não houver mão de obra e recursos para isso.

4. Delegue funções

Lá na fase de convencimento dos interessados já é importante deixar claro que todas as tarefas serão divididas. Não importa se uma ou outra pessoa não tem habilidade para mexer na terra ou se alguém não tem tempo para cuidar da horta comunitária durante o dia. Há trabalho para todo mundo, independentemente da familiaridade com a rotina de plantio ou do tempo disponível.

5. Busque informações

Para que o trabalho dê certo, todos precisam ter um mínimo de orientações no trato cultural das espécies que serão plantadas. É fundamental saber como preparar a terra, quais os cuidados são importantes na manutenção da horta comunitária, quais nutrientes precisam ser adicionados, como lidar com as pragas e de que forma aplicar os fertilizantes, tanto industriais quanto orgânicos.

Sobre a horta comunitária da Ocupação 9 de Julho

Da necessidade de um mundo mais saudável, as metrópoles estão se reinventando para serem mais sustentáveis. Diante disso, hortas comunitárias estão sendo criadas, modificando os espaços urbanos e crescendo.

Dessa possibilidade de troca vem surgindo diferentes ideias. Existem hortas que alimentam seus moradores gratuitamente, hortas em aeroportos, em prédios e até mesmo em estações de trem.

Na cidade de São Paulo, a horta comunitária da Ocupação 9 de Julho, localizada na região central, têm sido um grande exemplo de sustentabilidade. Além de ser um ambiente no qual os moradores podem aprender, trocar experiências e socializar, também facilita o o a alimentos frescos e saudáveis. Para entender um pouco mais sobre esse projeto, entrevistamos Carmen Silva, líder do MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro). Baiana e mãe de 8 filhos, Carmen já retirou quase 3 mil pessoas de moradias precárias e dos baixos dos viadutos. Confira!

Como e quando surgiu a ideia de realizar uma horta comunitária dentro da Ocupação 9 de Julho?

A ideia de realizar uma horta comunitária na ocupação 9 de Julho surgiu há três anos. Ela surgiu porque eu comecei a perceber que as pessoas idosas da ocupação não carregavam esse DNA urbano que os jovens têm.

Muitos vieram da roça, do interior ou de outros estados e sempre tiveram o hábito de mexer com a terra. Então eu convidei um idoso que morava aqui na ocupação para começar a mexer na terra e ver se ele se alegrava um pouco com essa atividade, eu percebia que ele era muito triste. 

E daí pra frente outras pessoas começaram a se engajar com a ideia da horta. O pessoal da cozinha ocupa 9 de julho e do MSTC também começaram a se envolver. Conforme fomos avançando no projeto, começamos a pensar a questão do ecossistema também, que não adianta plantar por plantar, que é necessário tratar a terra. E depois de todo esse processo de aprendizado a horta se tornou o que ela é hoje.

Como está o andamento da horta comunitária?

Já colhemos 42 quilos de beterraba, mais de 30 quilos de, berinjela, semana ada retiramos cinco quilos de peixinho, e hoje na horta comunitária, possuímos pé de maracujá, ora-pro-nóbis e outros.

A horta trouxe uma questão bem carismática pra nós, que é a questão da culinária ancestral. As folhas, que a gente tinha perdido o costume de inserir na nossa alimentação, alimentação como a Taioba e hortelã grosso, que a maioria das pessoas urbanas nem sabe o que é, são plantas ancestrais e extremamente nutritivas.

Como funciona o intercâmbio entre a horta comunitária e a cozinha da ocupação?

A cozinha da ocupação trabalha com o que plantamos aqui e o que não possuímos, compramos de produtores rurais. Nós criamos essa rede, toda a comida produzida aqui é feita com produtos orgânicos.

Realizamos essa compra direta com o pequeno produtor. O arroz e o feijão que utilizamos, por exemplo, é comprado diretamente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Esse intercâmbio entre cozinha, horta e pequenos produtores só nos trouxe excelência e qualidade. Trouxe muita qualidade na nossa alimentação e também muitas reflexões sobre a questão da segurança alimentar. Hoje, infelizmente, temos muitas pessoas ando fome.

Por isso, a cada marmita vendida ao público geral nos finais de semana, duas marmitas são doadas para comunidades vulneráveis. A mesma comida que é servida e vendida aqui é doada para comunidades.

Quais são as comunidades atendidas na cidade de São Paulo pela horta comunitária?

Atendemos muitas comunidades na cidade de São Paulo, dentre elas: Morro do Piolho, favela do Vietnã, mulheres imigrantes da Associação Instituto Luz e Vida, Grajaú e Cidade Tiradentes.

Há distribuição das colheitas da horta com os moradores da ocupação?

Hoje 129 famílias moram hoje na ocupação. Cada família toca sua vida de forma individual. Cada um possui sua própria cozinha e produz sua própria comida. Quando realizamos colheita na horta, doamos parte do que recolhemos para todos os moradores.

Como vocês pensam a questão da sustentabilidade dentro da ocupação?

Aqui a gente pensa na questão das árvores, na questão do lixo… temos uma composteira, com os resíduos orgânicos que produzimos e fazemos a compostagem, que é uma forma de devolver o que seria “lixo” como insumo para a própria terra.

Qual a importância da conscientização de preservação?

A consciência de possuir uma horta em meio ao concreto é a consciência de que nós podemos ser agentes da transformação.

A questão do que está acontecendo hoje em Petrópolis, as chuvas que aconteceram  em Minas, na Bahia… isso também está dentro da nossa consciência de preservação do território.

É uma questão que tem a ver com a falta de o ao saneamento básico e de se pensar a natureza como a mãe de tudo. Não se deve desprezar a natureza com construções, com desmatamento desenfreado, não se pode negar a natureza.  

A preservação dessa horta, dessas árvores, o o ao saneamento, o descarte apropriado dos resíduos sólidos, tudo isso faz parte de possuir essa consciência de respeito a natureza.

Como as pessoas podem contribuir com a horta comunitária?

Existem várias maneiras pelas quais as pessoas podem contribuir com hortas comunitárias, seja participando ativamente ou apoiando indiretamente. Aqui estão algumas formas de contribuição:

1. Participação ativa no plantio e cuidado das plantas

Participar do plantio, rega, colheita e manutenção regular das plantas. Isso ajuda a manter a horta em boas condições e a garantir que as plantas cresçam saudáveis.

2. Doação de insumos e ferramentas

Contribuir com sementes de diferentes espécies de plantas ou mudas para diversificar a produção. Doar ferramentas como enxadas, regadores, pás, e outros equipamentos necessários para o cultivo, e doação de adubos naturais ou fornecer compostagem para nutrir o solo.

3. Compra de marmitas convertida em doação

Ao adquirir uma marmita, as pessoas podem contribuir diretamente para o combate à fome, pois cada marmita vendida dentro da ocupação 9 de julho é convertido em duas marmitas para comunidades vulneráveis.

4. Apoio à infraestrutura

Se você tem habilidades em construção ou gosta de projetos manuais, pode ser uma ótima oportunidade para contribuir, aplicando seu conhecimento de forma prática e apoiando o crescimento sustentável da horta.